No domingo do dia 26 de maio de 2019, em meio a um dia marcado por manifestações em favor ao atual Governo Federal em todo o Brasil, cinco bandas locais protagonizaram no Estelita Bar, localizado no bairro do Cabanga, zona sul do Recife, o contra-ponto as mesmas.
Resultado de uma parceria entre as bandas participantes, o Estelita Bar e o podcast Tejipior, o evento “A Invasão” teve como intuito juntar grupos que apresentam viés políticos em suas temáticas, para juntar, ecoar um grande grito de protesto contra todo o cenário político atual.
Foram escaladas para o evento, as bandas Insânia, O Cão, Saga HC, Plugins e Pesado.
De início, os shows estavam marcados para se iniciar às 17h, mas como é de praxe, isso não ocorreu e o evento atrasou uma meia-hora, e a abertura dos portões só não demorou mais porque a casa deixou que o pessoal entrasse para se protegerem da forte chuva que atingiu a cidade naquela tarde.
Até que por volta das 17h, ainda para um público minúsculo, a banda Insânia abriu os trabalhos na “Invasão” com todo o peso do seu Metalcore.
A Insânia era uma banda a qual eu sabia muito bem o que esperar, pois essa era a terceira vez em que os vi ao vivo em menos de um mês (e a segunda a qual estou resenhando), tendo a última sido no fim de semana anterior do evento Rock Ribe.
A banda realizou seu show no melhor modo “pé no bucho e mão na cara”, ligando o “foda-se” (como eles mesmos dizem em uma de suas músicas), e mandando o sistema tomar naquele lugar.
Mais uma vez, a banda apresentou no palco as faixas presentes em seu disco homônimo, primeiro da carreira, lançado no início desse ano. Ao longo de toda a apresentação, o vocalista Diogo Felipe tentou constantemente instigar o público a interagirem mais com o show, batendo cabeça e fazendo rodas punks. Mas, por conta do baixo número de pessoas no momento, isso não ocorreu.
Mas de qualquer forma, a energia da banda no palco foi completamente “insana” (se me permitem o trocadilho), com uma presença de palco incrível, e muita porrada na orelha durante seus quase 40 minutos de apresentação.
Encerrado o show da Insânia, não demoraria muito para que o palco do Estelita fosse preparado para o início da apresentação da banda de Hardcore “O Cão”.
O ex-quarteto, e agora power trio “O Cão” veio ao show com esse detalhe de que aquela seria a primeira apresentação deles sem o vocalista Thiago Carvalho, tendo que o baixista Eddie Cheever e o guitarrista Hugo Medeiros dividirem a responsabilidade nos microfones (inclusive, em alguns casos eles precisaram ler a letra).
Sobre o show em si, apesar desse empecilho, a banda conseguiu trazer todo o peso do seu Hardcore no palco, apresentando um som que lembra bastante o DFC; curto, rápido, intenso, sujo e pesado.
O som deles tinha a brecha perfeita para um mosh pit bem insano, mas infelizmente, o público ainda estava com preguiça, mesmo estando em um número um pouco maior em relação a noite anterior.
Mas essa coisa da interação da plateia, infelizmente é um detalhe que não chegou nem perto de mudar ao longo do evento.
Logo após “O Cão”, era a hora de uma das bandas mais consagradas do underground recifense mandar seu recado, se tratando da Saga HC, banda de Hardcore oriunda de Jaboatão dos Guararapes.
Certamente, não faltou peso no som deles com muitas críticas sociais, e na ocasião o grupo também apresentou músicas novas do EP “Verdadeiros Marginais”, que será lançado nessa sexta-feira, dia 31 de maio.
Próximo do final do show, a apresentação também contou com uma participação especial do vocalista Fabrício Nunes, da Plugins, que iria tocar logo em seguida.
Sobre o público, anteriormente eu pensei que por a Saga HC já ser um nome consagrado em meio a cena pernambucana, o show deles teria uma interação maior do público presente. Mas isso não ocorreu mais uma vez.
Dali em diante se tinha certeza de que o público iria ser morto até o fim do evento, porque se nem o show da Saga HC conseguiu levantar o ânimo deles, mais nada levantaria.
Como mencionei anteriormente, logo em seguida foi a vez da Plugins, banda de New Metal oriunda do bairro de Tejipió, no Recife, subir ao palco do Estelita e soltar o peso do seu som.
O New Metal da Plugins soa mais ou menos parecido com o Limp Bizkit, com bastantes riffs e distorções, e uma pegada de Rap, juntando com letras de cunho político-sociais.
A música “Manifesto”, presente no mais recente disco “O Ontem Já Passou”, foi executada, mesmo sem a presença de Cannibal (Devotos), que faz uma participação na música nesse álbum, tendo o próprio Fabrício desenrolado as partes dele.
E também não posso deixar de destacar a monstruosidade e energia de Lucas Alves na bateria, conseguindo se desenrolar até de uma baqueta quebrada no meio da virada.
O único ponto negativo que cito do show da Plugins foi o fato do mesmo ter sido muito curto levando em consideração o tamanho do repertório deles (três discos), mas é aquilo, se todos tiveram 40 minutos de apresentação, porque com eles seria diferente, né?
O relógio marcava um pouco mais de 21h enquanto a casa se preparava para a última apresentação da noite, que ficaria a cargo do projeto solo do vocalista Pesado, um dos maiores “dinossauros” da cena pernambucana, conhecido por ter feito parte da banda Câmbio Negro HC.
Assim como a Insânia, o Pesado foi outra banda do cast a qual já tinha visto o show (e resenhado) esse ano, nessa ocasião, há um pouco mais de um mês no terceiro dia do Abril Pro Rock.
Diferente da apresentação do clássico festival, a banda veio com dois guitarristas em vez de três, mas claro, mesmo assim foi o suficiente para fazerem jus ao nome do projeto, dando “porrada” na orelha do início ao fim.
Assim também como no show do Abril Pro Rock, Pesado convidou a vocalista Luciana Menezes para acompanha-lo durante a música “8 de Março”, que retrata sobre a questão do dia internacional da mulher.
Mas ainda me baseando pela apresentação que vi deles no Abril (que foi completamente insana), nesse show do Estelita senti uma empolgação muito menor por parte do próprio Pesado. Ele na ocasião pouco conversou com o público, nem mesmo para falar sobre questões políticas (o único momento em que isso ocorreu foi por iniciativa da Luciana Menezes), O que aparentava era que ele não estava com muita vontade de fazer esse show, e decidiu fazer apenas o “feijão com arroz” no palco.
Talvez o “cemitério” que estava a pista do Estelita tenha colaborado com isso, pois tocar para um público pequeno e morto que nem aquele pode ser bem desanimador (sou vocalista também, entendo um pouco esse sentimento).
Outro fator que pode ter contribuído também foram alguns problemas técnicos também ao longo da apresentação, onde um dos microfones dos guitarristas não se ouvia de jeito nenhum (tendo causado também uma demora para a execução da música onde Luciana participou).
Enfim, de qualquer forma, o show do Pesado não deixou de ser uma aula de Hardcore, mas só faltou um “molho” para deixar a apresentação em um nível mais acima.
O relógio marcava exatamente 22h quando “A Invasão” se encerrou no Estelita Bar. Sendo assim, vamos para as considerações finais.
Sobre os shows, todas as considerações necessárias foram dadas já anteriormente, tendo todas transcorrido bem, tendo apenas o show do Pesado registrado maiores problemas técnicos que atrapalharam o andamento do mesmo.
Infelizmente, esse foi mais um evento underground no Recife que ficou marcado pelo público pequeno e morto, e é engraçado falar que em um festival só com bandas de Hardcore (ou tão pesadas quanto) a pessoal não instigou em fazer uma roda punk hora nenhuma (e o que não faltou foi música que dava a brecha perfeita).
Mas a principal crítica que faço nesse texto será direcionada para o próprio Estelita Bar, por conta do fato de que uma pilastra da casa, e a torneira do banheiro masculino, estavam vazando corrente elétrica. Nesse caso, eles tiveram sorte do local estar com pouca gente, porque se isso ocorresse num dia de casa lotada as chances de dar alguma merda maior era grande, principalmente se tratando de show de rock. Pois como o espaço do Estelita é pequeno, se o mesmo estivesse cheio e a galera tivesse em um nível ato de empolgação, com certeza iria bastante gente esbarrar naquela pilastra.
Não sei se esse vazamento de corrente elétrica ocorreu por conta de falhas no sistema elétrico da casa, ou por conta da forte chuva que atingiu Recife naquela tarde, mas de qualquer forma isso não pode ocorrer.
Apesar dos pesares, é importante que eventos como “A Invasão” ocorram constantemente na cidade, pois a cena precisa ser movimentada, assim como as bandas e o próprio público (mesmo que eles sejam fuleiros na maioria das vezes).
A Invasão foi criada com o intuito de resistir, seja politicamente ou culturalmente falando, e mesmo esse pouco público que compareceu ao Estelita Bar em um domingo chuvoso provou que o underground segue resistindo no Recife.